Notícias

Falta de investimento na rede pública é principal fator da crise na saúde no DF, aponta relatório

Falta de investimento na rede pública é principal fator da crise na saúde no DF, aponta relatório

Unidades de Pronto Atendimento (UPAS), hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS) lotadas. Faltam médicos, enfermeiros, equipamentos e remédios, mas sobra tempo na espera do atendimento. Esse é o retrato mais recente da saúde pública no Distrito Federal. 

O orçamento aprovado para a saúde neste ano foi de R$13 bilhões. O número é muito abaixo dos outros estados brasileiros. Em termos de comparação, com uma população de 3 milhões de habitantes no DF, o valor representa R$ 4.300 por mês por pessoa para arcar com todos os custos de saúde.

De acordo com dados apresentados pela Secretaria de Saúde (SES), 61,6% dos recursos para a área advém do Fundo Constitucional. O orçamento próprio do Governo do Distrito Federal (GDF) representa 24,2% do total e o Ministério da Saúde 13,8%.

Em relação às despesas com a atenção primária, 41% do valor foi autorizado e somente 19% efetivamente liquidados. O número respalda a queda no serviço. No primeiro quadrimestre deste ano foram realizados 1,1 milhão de atendimentos individuais ante 1,5 milhão de atendimentos no mesmo período de 2024, representando um recuo de 24,12%. 

“Poucas capitais do país têm esse orçamento. É a maior fábula de dinheiro. No entanto, nós não conseguimos melhorar os indicadores dos pacientes indo a óbito por falta de assistência. E as especialidades médicas faltam todas, há uma carência de todas”, avalia o presidente do Sindicato dos Médicos no DF (Sindemédicos), Gutemberg Fialho. 

Escassez de profissionais

Ainda segundo o relatório da SES, no primeiro quadrimestre de 2025, a força de trabalho ativa da pasta era de 32.122. Técnicos de enfermagem representam 28% do total, seguidos por trabalhadores da assistência pública à saúde (18%), médicos (15%), enfermeiros (13%) e especialistas em saúde (11%).

No mesmo período, a pasta nomeou 228 servidores efetivos (225 médicos, 2 técnicos de enfermagem e 1 dentista) e 343 temporários. A taxa de absenteísmo caiu de 10,75% para 9,5%. No entanto, o número ainda é alarmante, segundo o diretor do Sindicato dos Enfermeiros (SindEnfermeiros), Jorge Henrique. 

“Há um absenteísmo muito grande dos servidores da saúde hoje. Os servidores da enfermagem sofrem muito com a violência diária, tanto física quanto verbal. Até mesmo sexual. Isso é reflexo desse processo de fragmentação com a terceirização da saúde e desinvestimento”, argumenta. 

Um levantamento feito recentemente pelo Sindmédico, ao qual o Brasil de Fato DF teve acesso, demonstrou que, embora o número de registros de especialistas no Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) cresça, os médicos atuantes na SES-DF não acompanha o mesmo ritmo.

Até agosto deste ano, havia 867 médicos especialistas na área de cardiologia com o cadastro ativo e apenas 72 atuantes na SES. Na oncologia clínica, por exemplo, não há registro de médicos no órgão público, mas 166 estão registrados na especialidade pelo CRM. 

A presidente do CRM-DF, Lívia Vanessa, explica que as condições precárias às quais são submetidos refletem na escassez dos profissionais. “A carreira na Secretaria de Saúde e no próprio Iges [Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF] se torna menos atrativa, porque você vai para um ambiente que já está sobrecarregado. Um lugar que precisaria de três, quatro médicos, só tem um. Você coloca mais um e não resolve o problema”, relata. 

Insatisfação pública

A percepção de moradores do DF sobre os equipamentos públicos de saúde foi, em maior parte, negativa, segundo dados do ObservaDF, divulgados em 2025. As UBSs foram avaliadas negativamente por 45,6% dos entrevistados. Já os hospitais são desaprovados por 58,5%.

De acordo com o levantamento, 75,5% afirmaram que usufruem do sistema de saúde pública. 63,9% dizem utilizar os serviços da UBS. Outros 42,4% relatam que já foram à alguma UPA e 43,4% vão aos hospitais públicos. 

Os residentes de regiões de baixa renda são os que mais recorrem aos equipamentos. Destes, 46,6% declararam ser usuários das UPA, enquanto essa proporção cai para 36,9% entre aqueles residentes nas áreas de alta renda. 

Já os hospitais públicos são usados por 53,5% da população, sendo que a proporção cai a 36,7% entre os moradores de regiões mais ricas.

Instagram

Contato/Localização